A PÁSCOA NO TEMPO DA AVOZINHA
As comemorações da Páscoa no tempo da Avozinha eram muito diferentes cá na nossa terra!
Uma das tradições favoritas da Avozinha e das outras crianças sourenses era o peditório de porta em porta que os petizes faziam. As crianças corriam as várias ruas da vila e em todas as portas batiam e diziam: “Uma esmolinha para o Nosso Senhor Jesus Cristo. Ámen!”. A maioria das pessoas dava-lhes dinheiro, mas havia também outras que lhes davam batatas, feijão, milho, ou qualquer outra coisa, pois nesta época o que contava era a intenção. As crianças, claro, aceitavam tudo, pois estas pequenas ofertas iriam sem dúvida ajudar na economia familiar. Este peditório decorria na 5.ª e 6.ª feiras da Semana Santa. Havia ainda aqueles que tentavam a sorte ao sábado, mas sem sucesso!
Outra tradição do tempo da Avozinha era o “Lava Pés”, que decorria há 6.ª feira santa. Esta prática decorria na Praça Miguel Bombarda, à frente da Igreja Matriz. Consistia na lavagem dos pés dos sourenses pelo padre, principalmente dos mais pobrezinhos, como se recorda a Avozinha. Eram utilizadas nesta prática uma grande bacia e um jarro em prata, muito valiosos e bonitos, que eram emprestados à Igreja por uma família da vila. A Avozinha lembra-se de acorrerem muitas pessoas a este “Lava Pés”.
Também na altura da Páscoa havia sermões na Igreja, dados por frades franciscanos, à noite. Estes sermões decorriam na Igreja Matriz, e o frade franciscano colocava-se num púlpito, que actualmente já não se encontra lá. Havia uma grande afluência de fiéis, que enchiam a Igreja para ouvir os sermões destes religiosos.
Outra tradição de que a Avozinha se recorda era a Visita Pascal. O padre da paróquia, acompanhado pelo sacristão, percorria as casas da vila e arredores, mas entravam somente naquelas que tivessem a porta aberta. Ao entrarem nas casas, o sacristão tocava uma sineta (que aliás também tocava na rua, para assinalar a sua presença), e o padre benzia a casa, aspergindo água benta. Os fiéis depois faziam oferendas ao padre, em dinheiro ou géneros, e ofereciam-lhe um pequeno lanche, com bolos e água ou vinho. Nesta visita era também benzido um ramo, que as pessoas iam colher ao campo, formado por ramos de oliveira, mirra, alecrim e uma papoila. Este ramo, depois de benzido, podia ser queimado (uma pequena parte) quando trovejava, para afastar a trovoada!
E são estas as memórias pascais da Avozinha Sourense!
4 Comments:
He he he !
Devo estar de facto muito velho.
Já não há visita pascal ?
As crianças já não fazem peditório na Sexta-Feira Santa?
Quanto encanto perdido.
(Claro ... devem ter importado o muito "europeu" peditório do dia das bruxas.
o peditorio do dia das bruxas provem dos "estados unidos da america" e nao da "europa".
a visita pascal d padre ainda existe em muitos locais o que prova que nao � uma pratica desactualizada mas sim esquecida, mesmo cm todos os petiscos o padre prefere nao se mexer muito.
Anónimo
Com os meus maiores respeitos mantenho que o peditório do dia das bruxas é uma tradição europeia. Apos ler a sua crítica investiguei e concluí que as minhas memórias estavam certas.
Aconselho vivamente o link:
http://ilove.terra.com.br/lili/palavrasesentimentos/halloween_historia.asp
O Zarco tem razão; o peditório do dia das bruxas, se bem que muito praticado nos Estados Unidos, é de origem europeia. Mas nós também tínhamos uma tradição parecida, "pedir os bolinhos", no Dia de Todos os Santos. Lembro-me muito bem de o fazer nos anos 50 e lembro-me também da visita pascal. Quanto ao ramo que se benzia acho que a Avozinha está a confundir com o ramo do Domingo de Ramos. O que era benzido durante a visita pascal eram ramos de alecrim com que se enfeitava a mesa onde se dispunha a oferenda (folar) para o padre. Em casa dos meus avós,na freguesia de Tapéus, o dinheiro era posto num pires (em que o padre deixava algumas amêndoas) debaixo (Ou em cima; agora não me lembro bem.)de uma laranja, sobre uma mesa coberta com uma toalha branca rendada e decorada com alecrim. Às vezes dispunham-se os ramos do Domingo de Ramos em cima da mesma mesa também. Em Tapéus era costume dar-se uma galinha de folar ao padre, que anunciava o preço corrente das galinhas na praça de Soure com algumas semanas de antecedência, para que as famílias soubessem quanto tinham de dar. Algumas pessoas davam mesmo a galinha. Acompanhavam o padre, para além do sacristão, duas ou três mulheres que carregavam as galinhas `a cabeça, em cestas largas.
Lembro-me também que em casa da minha outra avó, que pertencia à freguesia de Soure, vinha o Sr. Arcipreste "tirar o folar", mas não me recordo muito bem, só que parace que era mais barato pertencer à freguesia de Soure porque, se bem me lembro, o folar não era estipulado e se dava só quatro ou cinco escudos.
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