quarta-feira, abril 29, 2009

AS RIVALIDADES SOURENSES...

Lembra-se a Avozinha, que em Soure, nas décadas de 1940-50 (mas com raízes muito mais antigas), havia uma rivalidade entre a "Alta" e a "Baixa" de Soure. A fronteira entre elas encontrava-se junto à torre do relógio, na rua Alexandre Herculano. Mesmo hoje é possivel ver que o tipo de calçada, a disposição dos paralelepípedos, está alterada numa pequena extensão.

Esta rivalidade ia desde os ranchos até às próprias conversas das crianças na escola! Em termos de ranchos, tínhamos o rancho da Alta, cuja sede era no actual edifício da Banda de Soure, e o rancho da Baixa, que ensaiava na "Sede da Macaca", que se situava no actual edifício da loja Macofel. A rivalidade entre os ranchos baseava-se em quem tinha mais apresentações fora de Soure. A Avozinha recorda-se, por exemplo, que o rancho da Baixa chegou a ganhar um 1.º prémio num concurso de ranchos do Casino da Figueira da Foz, há cerca de 60 anos atrás, na altura ensaiados pelo saudoso Renato Monteiro.

No que respeita à organização de festas, também havia muita rivalidade! A Baixa organizava os seus bailes na Associação dos Artistas (que era uma sociedade de operários: carpinteiros, pedreiros, sapateiros,...), no local da actual Casa do Povo, no Largo Conde Ferreira (que, por curiosidade, no tempo da Avozinha, se apelidava de Praça das Galinhas). Já a Alta dava as suas festas na sede do seu rancho, e os participantes eram pessoas ditas chiques. Ou seja, havia também uma certa divisão por classes sociais, para além das rivalidades que faziam com que uns não fossem aos bailes organizados pelos outros.
A competição, pode-se dizer, era saudável, apesar dos ânimos se alterarem mais quando os respectivos ranchos tinham apresentações!

E são estas as memórias da Avozinha sourense...


Agosto 2006

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sábado, março 21, 2009

A PÁSCOA NO TEMPO DA AVOZINHA

As comemorações da Páscoa no tempo da Avozinha eram muito diferentes cá na nossa terra!

Uma das tradições favoritas da Avozinha e das outras crianças sourenses era o peditório de porta em porta que os petizes faziam. As crianças corriam as várias ruas da vila e em todas as portas batiam e diziam: “Uma esmolinha para o Nosso Senhor Jesus Cristo. Ámen!”. A maioria das pessoas dava-lhes dinheiro, mas havia também outras que lhes davam batatas, feijão, milho, ou qualquer outra coisa, pois nesta época o que contava era a intenção. As crianças, claro, aceitavam tudo, pois estas pequenas ofertas iriam sem dúvida ajudar na economia familiar. Este peditório decorria na 5.ª e 6.ª feiras da Semana Santa. Havia ainda aqueles que tentavam a sorte ao sábado, mas sem sucesso!

Outra tradição do tempo da Avozinha era o “Lava Pés”, que decorria há 6.ª feira santa. Esta prática decorria na Praça Miguel Bombarda, à frente da Igreja Matriz. Consistia na lavagem dos pés dos sourenses pelo padre, principalmente dos mais pobrezinhos, como se recorda a Avozinha. Eram utilizadas nesta prática uma grande bacia e um jarro em prata, muito valiosos e bonitos, que eram emprestados à Igreja por uma família da vila. A Avozinha lembra-se de acorrerem muitas pessoas a este “Lava Pés”.

Também na altura da Páscoa havia sermões na Igreja, dados por frades franciscanos, à noite. Estes sermões decorriam na Igreja Matriz, e o frade franciscano colocava-se num púlpito, que actualmente já não se encontra lá. Havia uma grande afluência de fiéis, que enchiam a Igreja para ouvir os sermões destes religiosos.

Outra tradição de que a Avozinha se recorda era a Visita Pascal. O padre da paróquia, acompanhado pelo sacristão, percorria as casas da vila e arredores, mas entravam somente naquelas que tivessem a porta aberta. Ao entrarem nas casas, o sacristão tocava uma sineta (que aliás também tocava na rua, para assinalar a sua presença), e o padre benzia a casa, aspergindo água benta. Os fiéis depois faziam oferendas ao padre, em dinheiro ou géneros, e ofereciam-lhe um pequeno lanche, com bolos e água ou vinho. Nesta visita era também benzido um ramo, que as pessoas iam colher ao campo, formado por ramos de oliveira, mirra, alecrim e uma papoila. Este ramo, depois de benzido, podia ser queimado (uma pequena parte) quando trovejava, para afastar a trovoada!

E são estas as memórias pascais da Avozinha Sourense!

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